segunda-feira, 30 de abril de 2012

O trabalho psicopedagógico com crianças e adolescentes com transtorno global de desenvolvimento

 
Patrícia Leuck

Pedagoga/ Psicopedagoga

RESUMO

Abordar o tema sobre Transtornos Globais do Desenvolvimento e suas relações com a Educação a partir das dimensões epistemológicas e históricas, contextualizar alguns subsídios oferecidos na área  da Educação, considerando o atual debate relativo à educabilidade dos sujeitos com autismo, apresentar a escola e ao educador como sendo fundamentais para o processo de inserção social e constituição do sujeito; buscar a contribuição para o movimento de integração escolar não são tarefas fáceis. No Brasil, são poucos e recentes os estudos sobre crianças que apresentam autismo; tanto no campo da Saúde quanto no da Educação, faltam dados sistematizados sobre quem são e onde estão estas crianças, sobre os serviços oferecidos, o percurso escolar e as possibilidades de escolarização. Os dados demostram que a maioria dessa população está desassistida, em termos de serviços e possibilidades de atendimento; uma parcela significativa dos profissionais desconhece o que sejam estes transtornos; a desinformação e o preconceito acabam contribuindo para uma situação de desamparo e exclusão social, sobretudo daqueles menos favorecidos. Para entender este processo de escolarização, deve-se primeiramente traçar uma linha do tempo sobre a evolução histórica de família,  de criança e de educação para poder analisar o insucesso sempre mais interpretado como um reflexo da falta de habilidade do professor e sempre menos como resultado da capacidade de aprendizagem limitada da criança; e a importância de desenvolver uma relação intensa e estável com o aluno.



Palavras-chave: Transtorno Global de desenvolvimento. Educação. Família.













Introdução



Para iniciar o trabalho deve-se ter conhecimento sobre o que é o Transtorno Global de desenvolvimento, a fim de buscar um encontro mínimo entre as diferentes abordagens, de encontrar a possibilidade de uma discussão a partir do Código Internacional das Doenças: CID – 10, proposto pela Organização Mundial de Saúde/OMS. Esta referência coloca em uma mesma categoria as crianças e adolescentes, anteriormente classificadas como psicóticas e autistas, independente das causas aceitas. A esta ampla categoria foi atribuída a designação Transtornos Globais do Desenvolvimento como sendo distúrbios nas interações sociais recíprocas que costumam manifestar-se nos primeiros cinco anos de vida. Caracterizam-se pelos padrões de comunicação estereotipados e repetitivos, assim como pelo estreitamento nos interesses e nas atividades. Os TGD englobam os diferentes transtornos do espectro autista, as psicoses infantis, a Síndrome de Asperger, a Síndrome de Kanner e a Síndrome de Rett.

Em relação aos dados epidemiológicos sobre esta população, não existem referências nacionais. Assim, para obter tais indicadores é necessário recorrer a estimativas norte-americanas[1][4]. Naquele país, são estimadas 10 a 15 crianças para cada 10.000. Supondo que essa incidência seja semelhante no Brasil, podemos indicar um número aproximado de casos na nossa realidade. Segundo o IBGE[2][5] (1997), a população brasileira, de zero a 17 anos, é estimada em 58 milhões de crianças e adolescentes. Podemos supor, então, que o número de crianças e adolescentes integrantes desse perfil diagnóstico varie entre 58.000 a 87.000.

Através dos dados do Manual de Diagnósticos e Estatísticas de Distúrbios Mentais /DSM-IV (1994), sabe-se que não há correlação entre nível sócio-econômico e a presença destes transtornos. Não se pode negar, no entanto, a potencialização das dificuldades quando a falta de recursos financeiros restringe ainda mais o acesso ao atendimento. Cruzando as informações do IBGE acerca da situação de pobreza em que vivem 25 % dos sujeitos de zero a 17 anos – rendimento familiar per capita de até meio salário mínimo – com a faixa de incidência dos Transtornos Globais do Desenvolvimento, podemos estimar que, hoje, no Brasil, entre 14.500 e 21.700 crianças e adolescentes apresentam esse quadro clínico associado à condição de pobreza.

Os dados disponíveis sobre a rede de serviços oferecidos são também poucos, imprecisos e desatualizados. Foram encontradas referências apenas no relatório do Ministério da Previdência e Assistência Social (1997) quanto à categoria das deficiências mentais[3][6]. Segundo esse documento, apenas 2% da demanda são atendidos e, em sua maioria, os atendimentos são feitos por instituições não governamentais (segmento que tradicionalmente tem se ocupado desta população).

A escolarização e o convívio com portadores de transtorno global de desenvolvimento está cada vez mais presente na realidade escolar de nosso país, porém  ainda geram muitas polêmicas, inseguranças e conflitos emocionais em educadores e instituições de ensino. Paira a dúvida sobre sua cognição e socialização com os demais alunos. Falta infraestrutura física e emocional de ambas as partes escola / família. Há necessidade de um conhecimento epistêmico, psicanalítico e neuropsicológico  sobre as ditas “crianças selvagens”, não há como escolariza-los sem conhece-los, sem saber como estimula-los, quando e como estimular a aprendizagem dessas crianças e adolescentes, a importância de uma rotina e um comprometimento com a vida destes portadores. Conhecer sua  história de vida, criar teias afetivas e cognitivas. Enfim, como o trabalho psicopedagógico com crianças e adolescentes com transtorno global de desenvolvimento auxilia o tratamento e escolarização dos mesmos. Como escolarizar e incluir estas crianças ditas  “ selvagens” nas instituições de ensino, tornando seu processo eficaz ?

Este artigo tem como objetivo buscar esclarecimentos e embasamento

Epistêmico sobre o transtorno global de desenvolvimento, buscar uma reflexão sobre as propostas de intervenção  e estimulação destas crianças; procurar subsídios para  estimula-los cognitivamente e socialmente; incluir a criança de

uma forma eficiente e ética; para tornar a inclusão o apoio da família e do portador.



                                                                                                                                

Como trabalhar com Transtorno Global de Desenvolvimento nas escolas?



            Não há como falar de inclusão sem saber de fato a sua trajetória no país e a trajetória das crianças e famílias com necessidades especiais.

Assim, para entender este processo, deve-se traçar uma linha do tempo sobre a sua evolução histórica:

Na Antiguidade Clássica as crianças que nasciam portadoras de alguma anomalia, eram deixadas em bosques, porque não correspondiam ao esteriótipo estético aceitável pela sociedade da época.

Já na Idade medieval, a Igreja e os juristas da época buscaram traçar um novo olhar ao portador de deficiência, um limite entre o abandono e o cuidado, entre a razão e a desrazão. Tornou-se uma questão de posses, valores sociais e um problema teológico. Durante a Modernidade, ocorreram profundas modificações nas ciências, nas organizações sociais, na vida pública e privada. Neste sentido, são interessantes as elaborações de Ariès (1981) acerca do “nascimento” da infância, da família e da escola. Este autor enfatiza que tais instâncias são construções sociais, altamente solidárias às aspirações político-sociais da burguesia nascente.

Assim a criança sai do anonimato e passa a conviver e possuir funções na sociedade, a família por sua vez recebe a responsabilidade de escolarização e socialização de seus filhos bem como de transmissão de valores e princípios. A escola passa a ter o papel fundamental de lócus da educação, onde busca transmitir os ensinamentos da época.

Poder entender o histórico de evolução do tratamento dado a estas  crianças nos leva também a buscar o primeiro atendimento a portadores de Transtorno Global de desenvolvimento, o famoso caso do Selvagem de Aveyron, tornando a intitulação das “crianças selvagens”.

Segundo Gaudreau (1989), os princípios utilizados no tratamento de intervenção de Itard seguem os seguintes pressupostos׃ a necessidade de uma educação global; de rejeição do pessimismo médico e fundamental convicção da perfectividade dos seres. Remetendo ao presente, percebe-se uma nova maneira de olhar a Escola, que é um local de vivencias e experiências de vida, onde devem ser valorizadas e presentes no espaço de aprendizagem. Aprendizagem esta, que não pode jamais ser sinônimo de fracasso e sim um percurso de múltiplos caminhos. Como afirma Ibid ( 2003, p. 04) “ ensinar é perturbar o estável, o igual, estimulando e alertando para outras facetas dos fenômenos, incentivando o trânsito por novos horizontes”.

Os professores e a escola trilham por múltiplos caminhos em busca de inúmeras possibilidades do seu fazer pedagógico, possibilidades que constroem alicerces na aprendizagem cognitiva e emocional das crianças, sendo especiais ou não, porque aqui afirma-se que em uma sala de aula há sentidos, realidades, emoções individuais, sendo fundamental a construção de teias que alcancem e supram as necessidades de cada aluno, principalmente o aluno com TGD.

Os alunos com necessidades especiais não requerem somente uma integração, socialização com a sociedade. Eles requerem muito mais, requerem Educação. Sendo que esta não se dá somente à criança, porém a todos seus colegas de classe e escola, aos seus professores, pais e membros da comunidade escolar para que entendam , respeitem, e saibam conviver com as diferenças e com as suas limitações.

Com relação à interação social, crianças com TGD apresentam dificuldades em iniciar e manter uma conversa. Algumas evitam o contato visual e demonstram aversão ao toque do outro, mantendo-se isoladas. Podem estabelecer contato por meio de comportamentos não-verbais e, ao brincar, preferem ater-se a objetos no lugar de movimentar-se junto das demais crianças. Ações repetitivas são bastante comuns.

Os Transtornos Globais do Desenvolvimento também causam variações na atenção, na concentração e, eventualmente, na coordenação motora. Mudanças de humor sem causa aparente e acessos de agressividade são comuns em alguns casos. As crianças apresentam seus interesses de maneira diferenciada e podem fixar sua atenção em uma só atividade, como observar determinados objetos, por exemplo.

Com relação à comunicação verbal, essas crianças podem repetir as falas dos outros - fenômeno conhecido como ecolalia - ou, ainda, comunicar-se por meio de gestos ou com uma entonação mecânica, fazendo uso de jargões.

             O ensino aprendizagem implica em uma relação guiada por alguma teoria, o professor não terá como ensinar se não estiver epistemologicamente e emocionalmente preparado. Deste modo interessa refletir sobre como a aprendizagem em alunos com TGD é concebida pelo professor; enfatizar o corpo como possibilidade de intercomunicação ( gestos, deslocamentos, olhares, representações), bem como, compreender a dinâmica relacional pautada pelas especificidades desse alunado e suas demandas para o docente.

            A literatura cientifica mostra que as práticas educacionais desenvolvidas até o presente momento, pouco podem contribuir para a inserção da pessoa com necessidade especial na sociedade, remetendo á necessidade de transcender aspectos técnicos e clínicos , na esfera da formação dos professores, tendo em vista a educação da pessoa e não apenas no treino de suas competências. Há muitas escolas que utilizam o método behavorista para ensinar crianças com TGD, por afirmar que eles possuem movimentos mecanicistas, porém ao ler o relato de Robison no livro “ olhe nos meus olhos”, percebe-se a riqueza de criatividade, imaginação e a necessidade de aprender, e  principalmente a  pureza que esses portadores possuem,  nunca o Autismo foi tão bem explicado e retratado como está nesta belíssima obra. Ai vê-se a necessidade destas crianças de interagir com  o mundo, com a sociedade. Ao buscar embasamento teórico em Vigotsky (1994),  quando ele afirma que o desenvolvimento da criança se dá, primeiramente em nível social e, depois, em nível individual, no interior da própria criança:

O individuo realiza ações externas, que serão interpretadas pela pessoas ao seu redor, de acordo com os significados culturalmente estabelecidos. A partir dessa interpretação, é que será possível para o individuo atribuir significados a suas próprias ações e desenvolver processos psicológicos internos que podem ser interpretados por ele próprio a partir de mecanismos estabelecidos pelo grupo cultural e compreendidos por meio dos códigos compartilhados pelos membros desse grupo.

            Como agente de mediações o professor deve explorar sua sensibilidade, a fim de perceber quais são os significados construídos por seus alunos com referencia aos conceitos que estão sendo formados, quer sejam conceitos mais elementares ou complexos. Vigotsky (2000 pag.247) por meio de suas investigações afirma que:

A experiência pedagógica nos ensina que o ensino direto de conceitos sempre se mostra impossível e pedagogicamente estéril. O professor que envereda senão uma assimilação vazia de palavras, um verbalismo puro e simples que estimula e imita a existência dos respectivos conceitos na criança, mas, na prática, esconde o vazio. A criança não assimila o conceito, mas a palavra capta mais de memória que do pensamento e sente impotente diante de qualquer tentativa de emprego consciente do conhecimento assimilado. No fundo, esse método de ensino de conceitos é a falha principal do rejeitado método puramente escolástico de ensino, que substitui a apreensão do conhecimento vivo pela apreensão de verbais mortos e vazios.

            A educação seja inclusiva ou especial, ainda precisa ser repensada e reorganizada a respeito de alunos com TGD, pois os métodos baseados no Behaviorismo, em que as crianças são condicionadas ao ensino direto de conceitos que na verdade, não são nem assimilados, quando muito memorizados de forma mecânica e sem consciência, produzindo ações auto - mecanizadas, sem sentido e muito menos sem significado algum para eles, que deve-se dizer aqui, como acontece para qualquer criança dita normal também. Crianças necessitam dar significações a suas ações e aprendizagens.

             O processo de ensino e aprendizagem dos alunos com TGD precisa ser orientado de forma a desenvolver sua linguagem e principalmente seu psicomotor, o qual julga-se peça importantíssima para a desenvolvimento cognitivo, motor e social destas crianças. Quando se fala em aprendizagem, entende-se estar implícitos todas as formas de conhecimento, não limitado tão somente aos conhecimentos acadêmicos, mas nos conhecimentos do cotidiano, abrangendo, inclusive, as ações de afeto, de sentimento e de valor.

            No que diz respeito a educação psicomotora , o professor é chamado a procurar técnicas mais eficazes, a fim de obter uma melhora progressiva do comportamento geral da criança.

            A educação psicomotora é uma ação pedagógica e psicológica, que utiliza meios da educação física, com o objetivo de normalizar ou melhorar o comportamento da criança, pois o domínio corporal é o primeiro elemento do domínio do seu comportamento.

            Esta educação é uma ação essencialmente educativa, é a aplicação simples, a fins de reabilitação, dos meios trazidos pelo que deveria ser a educação física da criança: desenvolver o psicobiológico da criança; considerar a criança como um todo, e refazer as etapas mal sucedidas do desenvolvimento psicomotor; readaptar e melhorar seu comportamento geral; favorecer o aprendizado escolar e seus requisitos exigidos na aprendizagem.

Sabemos que as atividades de escrita, leitura e ditado são aprendizados, antes de serem um meio de aperfeiçoamento intelectual, e estes aprendizados estão em estreita relação com as diferentes condutas neuro perceptivo motora. Em todos os casos de dificuldades de aprendizagem ou inadaptação escolar, os problemas motores e psicomotores estão estreitamente ligados a problemas afetivos e psicológicos.

Wallon (1999) insiste sobre a importância primordial do desenvolvimento psicomotor durante a primeira infância, pois quanto antes estas crianças forem estimuladas, maiores serão seus resultados positivos no aprendizado, uma vez que  as correlações motricidade – psiquismo são muito evidentes em crianças e adolescentes com TGD.

Nas crianças, que possuem sérios comprometimentos, e que fracassaram na primeira infância, existe o déficit das funções motoras e psíquicas. O déficit é global e de origem patológica, porém as funções de relação são tão atingidas quanto as funções intelectuais.

Seja qual for seu potencial intelectual, as perturbações e insuficiência de conduta neuro motora sempre perturbam e paralisam as manifestações da inteligência.

Os aprendizados escolares básicos são exercícios psicomotores, ou seja,  a evolução psicomotora da criança condiciona os aprendizados referentes a leitura e escrita, onde encontramos constantemente em crianças normais essas dificuldades ( disgrafia, dislexia), já nas crianças com TGD estas dificuldades podem ser agravadas por não conseguirem por si próprias superar suas deficiências nas condutas neuromotoras ou perceptivo- motora. Para  fixar sua atenção a criança deve ser capaz de controlar-se: dominar seu próprio corpo, inibição voluntária. Assim, para adquirir a expressão gráfica, ela precisara ver, lembrar-se e transcrever em um sentido bem definido – da esquerda para a direita; hábitos motores e psicomotores.

Processo, este que dura todo seu período educativo, sendo impossível separar através de sua educação ou sua reeducação, as funções motoras, neuromotoras, perceptivo motoras das funções puramente intelectuais. A educação da criança com Transtorno Global de desenvolvimento deve ser, antes de mais nada , uma educação motora e psicomotora.

Vigotsky ( 2003) defende a teoria acerca das pessoas com necessidades especiais e seu desenvolvimento em relação a determinação da maneira como a condição( ser deficiente) deve ser compreendida e trabalhada no contexto de educação, conferindo-lhe o direito de seu papel ativo na construção no seu desenvolvimento, a partir de sua capacidade individual de apropriar-se e internalizar formas sociais de comportamento como participante de seu processo de conhecimento como sujeito histórico. Somente assim, tal pessoa passa a ser percebida e compreendida como individuo possuidor de diferentes capacidades e potencialidades em emergência, as quais devem ser encorajadas para que se transformar no alicerce do desenvolvimento das funções superiores.

Como Vigotsky (2000) há outros autores que preconizam a importância da escola para o desenvolvimento de crianças com transtornos globais do desenvolvimento, afirmando, inclusive, que a educação pode se transformar em uma “ferramenta” a favor do desenvolvimento global destas crianças. Esta abordagem redimensiona a importância e a função da escola. Para Kupfer (2000 pag.97):

Uma escola poderá ser fundamental para o desenvolvimento ou a conservação das ilhas de inteligência que as crianças já possuem. Mas poderá, ainda e sobre tudo, oferecer mais do que a chance de aprender. Como alternativa ao Outro desregrado, a escola, entendida como discurso social, oferece à criança uma ordenação, oferece as leis que regem as relações entre os humanos, que regem o simbólico, para delas a criança poder tomar o que puder.

Especificando a questão das condições de aprendizagem, a mesma autora coloca que em função da estrutura subjetiva, as condições de aprendizagem desse alunado, apesar de limitadas, existem. Tais possibilidades se dão de forma pontual, as chamadas “ilhas de inteligência” – qualidades intactas que se não reconhecidas e estimuladas podem desaparecer, levando a uma deficiência mental.

Quanto aos efeitos da inserção em uma instituição socialmente reconhecida como de normalidade e da infância, Jerusalinsky (1999 p.150) afirma:

A figura da escola vem a calhar porque a escola não é socialmente um depósito como o hospital psiquiátrico, a escola é um lugar de trânsito. Além do mais, do ponto de vista da representação social, a escola é uma instituição normal da sociedade, por onde circula, em certa proporção, a normalidade social. Portanto, alguém que frequenta a escola se sente geralmente mais reconhecido socialmente do que aquele que não frequenta. (...) E efetivamente isso acaba tendo um efeito terapêutico.

Preconizar a legitimidade da inserção de crianças com autismo nas escolas – e ainda nem entrou-se na discussão sobre em qual modalidade educacional (se especial ou regular) – é bem mais do que defender (ou atender) um mandato político que reza sobre os direitos do cidadão. Mais que um exercício de cidadania, ir à escola, para crianças com Transtorno Global de desenvolvimento poderá ter um valor constitutivo, onde, a partir da inserção escolar seja possível uma retomada e reordenação da estruturação psíquica da criança e ou adolescente.

Tais “efeitos”, contudo, não são inerentes ao ser aluno e estar na escola. Como destaca Meirieu (1998) eles decorrem de uma opção educativa; da aposta permanente na educabilidade do outro; do reinventar incessante dos modos de agir. Reinventar as possibilidades de escutar o outro, de educar o outro, de se aproximar do outro. Seriam estes os ideais e os desafios de quem encontra-se atento ao “especial” presente na educação de todos os sujeitos.





Conclusão



Crianças com Transtornos Global de Desenvolvimento apresentam diferenças e merecem atenção com relação às áreas de interação social, comunicação e comportamento. Na escola, mesmo com tempos diferentes de aprendizagem, esses alunos devem ser incluídos em classes com os pares da mesma faixa etária.

Estabelecer rotinas em grupo e ajudar o aluno a incorporar regras de convívio social são atitudes de extrema importância para garantir o desenvolvimento na escola. Boa parte dessas crianças precisa de ajuda na aprendizagem da autorregulação.

Apresentar as atividades do currículo visualmente é outra ação que ajuda no processo de aprendizagem desses alunos. Também cabe ao professor identificar as potências destas crianças. Investir em ações positivas, estimular a autonomia e fazer o possível para conquistar a confiança da criança e adolescente. Os alunos com TGD costumam procurar pessoas que sirvam como 'porto seguro' e encontrar essas pessoas na escola é fundamental para o desenvolvimento cognitivo e emocional.

Observa-se que o desenvolvimento integral diz respeito a criança em sua totalidade, impossível de ser segmentada em múltiplos aspectos, pois para os TGD, todos são importantíssimos, sem poder se estabelecer uma hierarquia sobre eles. Ressalta-se que este desenvolvimento deve ser integral e também integrado.

            Observação esta muito importante para o atendimento desses alunos, na medida que, erradamente, tem se buscado desenvolver a socialização e a motricidade, em vez de se trabalhar harmoniosamente para o desenvolvimento de todas suas potencialidades, sejam físicas, sociais, afetivas ou intelectuais.

            Pensar no aluno como peça mais importante e significativa existente em sala de aula, diversificar as características, as manifestações, os processos educativos irão se aprimorando bem como a consequência da diversidade de capacidades, interesses, ritmos e estilos de aprendizagem que os alunos manifestam.

            Com este propósito, tomam-se como referencias as seguintes considerações de que todo ser humano é passível de sofrer transformações, para isso precisamos mudar a visão de que o deficiente não pode aprender; saber que como profissionais, tem o poder de intervir e proporcionar condições para que este indivíduo se transforme, deixando de lado sua doença e enfocando seu processo de ensino; tanto o professor quanto o aluno são passiveis de transformações em seu processo de mediação e experiência do aprendizado; Centrar os objetivos para com seus alunos nos quatro pilares da educação: APRENDER A CONHECER; APRENDER A FAZER; APRENDER A VIVER JUNTOS E APRENDER A SER.

Não esquecer também que toda ação educativa necessita de uma observação que implicará em uma avaliação. Sendo que a observação deverá ser considerada as ações e os comportamentos da criança e adolescente. A avaliação será o julgamento sobre esta observação, de como lidam com as situações cotidianas e seu modo de ser, sentir e viver.

Para compreender o que se passa no processo educativo no desenvolvimento ou na reorganização da criança com transtorno Global de desenvolvimento, os profissionais engajados nesta ação devem ser muito objetivos em seus atos e na comunicação. Para isto necessita-se de referenciais acerca deste aluno sobre sua história e meio ambiente familiar, e como esta criança é vista pelos outros ( colegas, professor, escola, vizinhos), como ela vê a si própria. Assim, o conjunto de todos estes elementos constitui um testemunho irrevogável do desenvolvimento da criança.

Para finalizar, buscar na educação psicomotora como sendo um elemento chave da educação geral dos alunos com transtorno global de desenvolvimento. Analise que para a criança poder dominar seu comportamento, deverá ter o domínio de seu corpo; a educação psicomotora possibilita à criança uma eficiência em seus atos na vida relacional e em situações educativas; ensinando a criança “ a dispor dos meios de execução, a dispor de um esquema corporal e de um  esquema espaço – temporal, ela condiciona as diversas aprendizagens; a criança, mesmo sendo especial, é artesã de sua própria reabilitação; se uma educação psicomotora for aplicada rigorosamente durante a segunda infância das crianças com Transtorno Global de desenvolvimento, o número de casos de debilidade e de inadaptação, tanto escolares quanto sociais, seriam menores.

A educação psicomotora é muito mais que uma terapia ou um método de reeducação, deve ser considerada como uma disciplina essencial, como afirma o Dr. Le Boulch ( 1983) “ uma educação completa do ser através do movimento”.

Bibliografia




ARIÈS, Phillipe. História social da criança e da família. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1981.

Autismo, linguagem e educação - interação social no cotidiano escolar [Livro] / A. Orrú Silvia ester. - Rio de janeiro : Wak, 2009. - Vol. 2.

Educação psicomotora e retardo mental- aplicação aos diferentes tipos de inadaptação [Livro] / A. L.Pico. - São Paulo : Manole, 1988. - Vol. 4.

Influências da psicanalise na educação- uma prática psicopedagógica [Livro] / A. Assis Árbila Luiza Armindo. - Curitiba : IBPEX, 2007. - Vol. 2.

olhe nos meus olhos [Livro] / A. Robison Jhon Elder. - São Paulo : Larousse, 2008.

BANKS-LEITE, Luci; GALVÃO, Izabel (org.) A educação de um selvagem: as experiências de Jean Itard. São Paulo: Cortez, 2000

BRASIL. Uma Nova Concepção de Proteção às Pessoas Portadoras de Deficiência: Assistência Social em tempos de Seguridade Social. Ministério da Previdência e Assistência Social, Secretaria de Assistência Social e CORDE. Brasília,1997.

BRASIL. Decreto nº 3.298, de 20 de dezembro de 1999.
 



[1][4] DSM-IV(1994).                                                                                                                                                             
[2][5]Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Indicadores Sociais: crianças e adolescentes. Disponível em: < hhtp//www.ibge.org.br > Acesso em: novembro de 2011.
[3][6] Segundo a legislação nacional e internacional, considera-se “pessoa portadora de deficiência aquela que apresenta, em caráter permanente, perdas ou anormalidades de sua estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica, que gerem incapacidade para o desempenho de atividade, dentro do padrão considerado normal para o ser humano”. (Decreto n.º 3.298 de 20/11/99, Artigo 4º-I, da Política Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência). Seguindo a mesma referência, entende-se por deficiência mental: “funcionamento intelectual significativamente inferior à média, com manifestação antes dos dezoito anos e limitações associadas a duas ou mais áreas de habilidades adaptativas, tais como: comunicação; cuidado pessoal; habilidades sociais; utilização da comunidade; saúde e segurança; habilidades acadêmicas; lazer; e trabalho”(idem, art.4º- IV) Caracteriza-se como leve, moderada, severa ou profunda. Esta categoria compreende, também, as patologias neuropsiquiátricas – categoria onde se encontram as psicoses infantis e outros distúrbios afins.

Contribuição psicopedagógica diante da Epistemologia Genética, Neuropsicologia e Psicanálise nas dificuldades de aprendizagem.

                                                               Patricia Leuck


Introdução

Para o construtivismo, a aprendizagem é construção, ação e tomada de consciência da coordenação das ações. O aluno irá construir seu conhecimento através de uma história individual já percorrida, tendo uma estrutura, ou com base em condições prévias de todo o aprender, além de ser exposto ao conteúdo necessário para seu aprendizado

Porém, dentro das instituições de ensino deparamo-nos com muitos casos de dificuldades de aprendizagem, que transformam a vida das crianças, de seus educadores e  pais em um verdadeiro quebra-cabeças gigante, onde vamos procurando encaixar as peças..

 No Brasil, cerca de 40% das crianças em séries iniciais de alfabetização apresentam dificuldades escolares, e, em países mais desenvolvidos, a porcentagem diminui 20% em relação ao número total de crianças também em séries iniciais .

Sabe-se que se um aluno com dificuldades de aprendizagem se for bem conduzido pelos profissionais de saúde e educação, em conjunto com a família, poderá obter êxito nos resultados escolares .

O professor necessita de um novo olhar em sua sala de aula, um olhar epistêmico, o olhar baseado no elo afetivo entre aluno e professor, para adquirir subsídios inerentes ao desenvolvimento de cada individuo de sua sala de aula. Cada ser único, com suas especificidades, suas dificuldades. Dificuldades estas que podem representar o sucesso ou fracasso escolar.

 Dificuldades estas, que podem estar aliadas aos transtornos de saúde que ocorreram numa fase de grande importância para o desenvolvimento cognitivo e emocional do ser humano.

Acredita-se que as dificuldades de aprendizagem estejam intimamente relacionadas a história prévia de atraso na aquisição da linguagem. As dificuldades de linguagem referem-se a alterações no processo de desenvolvimento da expressão e recepção verbal e/ou escrita raciocínio lógico-matemático, podendo estar associadas a comprometimento da linguagem oral .

. Por isso, a necessidade de identificação precoce dessas alterações no curso normal do desenvolvimento evita posteriores conseqüências educacionais e sociais desfavoráveis .

Assim, neste capitulo  abordaremos a importância da Epistemologia Genética, da Neuropsicologia e da Psicanálise no auxilio das dificuldades de aprendizagem nas instituições de ensino. Como fatores, genéticos, orgânicos e emocionais podem interferir no desenvolvimento dos indivíduos e, como essas áreas têm grande influência sobre o processo de ensino-aprendizagem; e que nos auxilia na compreensão para podermos explicarmos os fenômenos pedagógicos que encontramos no nosso dia-a-dia.

Então, juntemos a  Epistemologia genética  que busca conhecer a origem ( gênese) do conhecimento, que faz uma  abordagem do sujeito em seu processo de construção do conhecimento, com a Neuropsicologia, que ressalta a importância do estimulo para o corpo como um todo até chegarmos na Psicanálise que comprova que somos constituídos como sujeitos desejantes do saber, aliadas em conjunto com a psicopedagogia, para  apresentarmos uma receita de sucesso nas instituições de ensino, buscando sempre a coerência, a paciência e tolerância na medida certa, para no final alcançarmos o sucesso escolar.

Para tanto, precisamos, primeiramente buscar a compreensão da palavra dificuldades de aprendizagem, ou ainda de transtornos comportamentais, que apesar de não serem de aprendizagem, interferem diretamente no processo de aprendizagem .

Este termo Dificuldades de aprendizagem é foco de diversos estudos e pesquisas que buscam compreender e explicar porque nossos alunos não aprendem. Entretanto, temos que ter clareza dos termos dificuldades e distúrbios de aprendizagem. Uma vez que distúrbios estão atrelados a disfunções e lesões neurológicas, que geram prejuízos e danos a aprendizagem. Já as dificuldades de aprendizagem geralmente estão relacionadas aos fatores metodológicos e internos do sujeito, como os aspectos emocionais e familiares.

As dificuldades de aprendizagem, segundo Patto (2002),

são referidas como um ou mais déficits significativos nos processos de aprendizagem essências que requerem técnicas de educação especial para sua remediação.



Contribuição psicopedagógica

Percebemos o mundo através do nosso cérebro, que entra em contato com ambiente por meio dos órgãos dos sentidos, que respondem aos diversos estímulos. Assim, destaquemos a grande importância da neuropsicologia dentro das escolas : se não estimularmos o corpo como um todo, poderemos fazer uma interpretação incorreta, interferindo na aprendizagem. Sara Paim (1989) afirma que:
                                   A origem de toda aprendizagem está nos esquemas de ação desdobrados                                                    mediante o corpo.    Para a leitura e integração da experiência é fundamental a integridade anatômica e de   funcionalismo dos òrgãos diretamente comprometidos com a manipulação do entorno, bem como os dispositivos que garantem sua coordenação no sistema nervoso central. ( p.29)
              
Ela aponta ainda que tanto nas escolas como em clinicas, vemos as dificuldades de nossos alunos apenas como manifestações dos problemas afetivos, cognitivos ou emocionais, deixando de lado os aspectos orgânicos; o corpo e o organismo, pois quando há uma disfunção neurológica ou endocrinológico refletirá certamente na aprendizagem do individuo. Daí a importância do sistema nervoso central que Pain tanto menciona em suas obras: ele é o grande coordenador de todos os dispositivos corporais, bem como de seu funcionamento nas relações com o meio ambiente.
             Diversas alternativas nos possibilitam para direcionar nosso olhar psicopedagógico, trabalhando multidisciplinarmente, envolvendo estudos sobre o sistema nervoso central e suas diferentes manifestações: linguagem e raciocínio lógico. Buscamos nas neurociências a explicação e intervenção dos mecanismos neuronais que sustentam atos cognitivos, perceptivos, motores, sociais e emocionais.
             Kandel et al. ( 2000) ao conceituar a neuropsicologia esclarece que, além de fornecer informações sobre o comportamento, tendo como escape atividade cerebral produzida por milhões de células neurais, também trata das influências do ambiente incluindo-se nelas, as relações interpessoais.

O que exatamente acontece no cérebro durante o aprendizado? As sinapses, pontos de troca de informação entre neurônios, mudam. As que foram usadas com sucesso são fortalecidas, enquanto as que levaram a erro ou não serviram para nada são enfraquecidas, algumas a ponto de atrofiarem e desaparecerem. Além disso, novas sinapses também podem aparecer - e um estudo recente mostra que isso pode acontecer mais rapidamente do que se imaginava. Dai vem a necessidade do estimulo, do exercício cerebral. Quanto mais estimularmos positivamente crianças com dificuldades de aprendizagem, maior e mais rápido será  o retorno, porém quanto mais demorarmos a detectar estas dificuldades trabalha-las, a intervenção será mais demorada e deverá ser mais profunda.
             Vários psicanalistas buscam elos entre as relações fisiológicas com o psiquismo, dentre todos Monah Winograd escreveu um artigo sobre Freud publicado pela Revista Percurso, nº 28, 1/2002 com o titulo “ Freud, o corpo e o psiquismo”, o qual ela cita os pensamentos do pai do psiquismo:
                       A conexão entre processos fisiológicos e processos psicológicos não é de causalidade mecãnica:      são processos paralelos, concomitantes e dependentes reciprocamente uns dos outros. Podemos dizer que cada um é causa do outro e de si mesmo, cada ocorrência numa das séries produz efeitos nesta mesma série e na outra. Deste ponto de vista, é problemático qualquer discurso que pretenda reduzir uma série à outra, seja biologizando  o sujeito, seja o psicologizando-o. A psicanálise está assentada neste paralelismo psicofisico de Freud que, provavelmente, é o seu pressuposto mais importante.
               
Para compreendermos o funcionamento intelectual da criança, a neuropsicologia pode recorrer a diversos profissionais, tais como médicos, psicólogos, fonoaudiólogos,etc, promovendo uma intervenção terapêutica mais eficiente.
            Ao referirmo-nos em dificuldades de aprendizagem, Tiosso (1989,1993) assinala que reprovações escolares têm múltiplas etiologias. No processo ensino-aprendizagem, consideramos que uma avaliação global das funções psicológicas deve levar em conta todo mecanismo cerebral, nos seus níveis sucessivos de evolução. Assim, a avaliação neuropsicológica é a única forma possível de se avaliar uma determinada função. Aqui retomo a questão do olhar epistêmico do professor para com seu aluno, há inúmeras salas de aula por nosso país com no mínimo 1 ou duas crianças que reprovaram uma, duas, três vezes e continuam na fila de uma  próxima reprovação. E o que fazer? Como fazer? Buscar subsídios para que essa criança possa alcançar os objetivos  do letramento, buscar a auto estima desta criança, motiva-la são ações que sem dúvida contribuem para amenizar suas dificuldades. Quantos de nós não possuímos dificuldade de aprender determinada atividade, porém com o tempo fomos superando estas, sendo movidos por motivação, ou por alguma necessidade, mas mais cedo ou mais tarde aprendemos.
           Podemos conceituar o organismo fisiológico como sendo uma máquina cibernética, na qual vigora a norma do equilíbrio. Adaptação como equilíbrio. Trata-se do que Piaget ( 1936/1956) denomina de adaptação-estado: equilíbrio é adaptação estado. Necessitando transitar da vida para o comportamento. Em suma, o sujeito age. E agir significa assimilar o meio e se acomodar a ele.
           O ser humano nasce com a possibilidade de interagir com o meio, construir seus esquemas de ação, e, assim, interagir em sistemas cada vez mais abrangentes.
Piaget conceitua a inteligência sendo uma adaptação, porque o sujeito deve sentir-se bem em seu meio. Esta adaptação é composta por três mecanismos: assimilação, que é o apreender novas experiências, que podem ser generalizadas e transpostas para outra ação. A acomodação, o sujeito é pressionado a mudar suas ações, levando-o á equilibração que é um processo ativo, onde o individuo reage a um problema, ou seja o sujeito abre-se ao mundo e encontra-se com ele.
           Paul J. Eslinger, em seus estudos neuropsicológicos demonstra sendo muitas diferenças entre as funções executivas da inteligência geral e da memória, o que se traduz como um cuidado conceitual, tanto no diagnótico quanto na intervenção psicopedagógica :
                                      As áreas do cérebro que possibilitam funções executivas são as últimas a  amadurecer sendo que, progressivamente vão permitindo: dominar os conhecimentos para fatos, números, palavras e imagens. Tais funções são indispensáveis para nossas atividades e para as adaptações ao contexto que nos rodeia porque são responsáveis, em cada um de nós, pela consciência em relação ao nosso conhecimento e ao nosso desconhecimento.
               
Contudo, o que se enfatiza é o ajuste ao mundo, porque é somente assim que as estruturas assimilativas do sujeito são alargadas, o que amplia sua inteligência do mundo bem como lhe propicia os elementos para a crítica de seus próprios limites: o sujeito tem uma finalidade, que é a de romper seus próprios limites e conquistar a compreensão do mundo. O sujeito crítico-hermenêutico: o sujeito que compreende o mundo e é critico de si.
              O sujeito age e se apropria do objeto de conhecimento, atribuindo-lhe significado próprio, de acordo com as suas possibilidades de entendimento até então desenvolvidos.
              Em sala de aula., Teberosky ( 1989) descreve situações de interação social de crianças em fase de alfabetização e, defende que estas elaboram suas ideias sobre a escrita pelo mecanismo da assimilação de informações do ambiente, sendo indispensável o auxilio do professor, que amplifica o acesso dos alunos a propriedades do sistema da escrita, algo de natureza inerentemente social.
               Para a psicanalise, o afeto é determinante para que aconteça a aprendizagem, pois é o gerador do desejo de saber, á necessidade de conhecermos melhor o aluno para nos relacionarmos melhor, a necessidade de conhecermos as fases do desenvolvimento afetivo do aluno para que nos relacionemos de acordo com as características e os desejos presentes em cada uma dessas fases, conhecermos seu meio, sua relação com a família, a gestação de sua mãe, se necessário sabermos o histórico de sua saúde, do parto. Informações estas que fazem a diferença no seu processo de aprendizagem, em uma avaliação diagnóstica.
              Aspectos estes, relacionados a objetos de estudo da psicanálise: constituição do sujeito, determinação das pulsões, dos desejos e do outro no processo de desenvolvimento, mecanismos de defesa, fases de desenvolvimento psicossexual.  Quando os educadores se familiarizarem com as descobertas da psicanálise, será mais fácil se reconciliarem com certas fases do desenvolvimento infantil.
               Existem a fase oral ( do nascimento aos dois anos), a fase anal ( dos dois anos aos três anos), a fase fálica ( dos três anos aos sete anos), a fase de latência ( dos sete aos doze) e a fase genital (dos doze anos em diante). Para os educadores, torna-se necessário o conhecimento sobre estas fases, pois elas são determinantes para a personalidade do adulto. Nelas estão situadas as causas das neuroses infantis ou adultas, no caso de terem vivenciado traumas e recalcamentos em consequência de ações educativas excessivamente rígida e punitiva.
               Para Freud a vida adulta é decorrente do que aconteceu na infância. A psicanálise contribui para a educação deixando o conhecimento de que as questões emocionais/afetivas determinam ,comandam e interagem com o que sentimos, pensamos, aprendemos e agimos. Assim, se uma criança, estiver conturbada emocionalmente, seu potencial para aprender, agir e pensar não se explicita, ficando enclausurado em seu mundo.
                Na escola, se conhecida essas fases e valorizadas todas estes esquemas corporal – orgânico, ajudará o psicopedagogo e os professores a compreenderem que determinados comportamentos dos alunos são intrínsecos. Como exigir de uma criança com sérios  comprometimentos na fala- transtornos de linguagem oral, que escreva corretamente, ou que domine bem a leitura. Será muito mais difícil  para esta criança , uma vez que ela percebe, ouve o som de uma outra forma, e não conseguirá compreende-la, ou seja não irá transpor do mental para a escrita.
             Reclamar, punir, criticar ou insistir que aprendam com mais dedicação ou com práticas de ensino mais exigentes, não irá modificar seus comportamentos e suas dificuldades, mas poderá acarretar sentimentos contraditórios, inclusive de baixa auto- estima. A criança precisa sentir o desejo, a pulsão pelo aprender, para conhecer tudo o que a cerca, basta apenas oferecer condições para que isso ocorra. Observar as crianças quanto as suas necessidades e interesses e com elas dialogar sobre estratégias mais oportunas para a transmissão do conteúdo.
             É preciso ensinar os alunos a pensar, e é impossível aprender a pensar em um regime autoritário, punitivo ou que o julgue menos inteligente. Pensar é procurar por si próprio, é criticar livremente e demonstrar de forma autônoma.


    Considerações finais
             A capacidade que o ser humano têm em relação a aprendizagem é um fato evidente. Saber compreender os estágios cognitivos, o funcionamento fisiológico dos alunos torna-se prioritário no fazer psicopedagógico e educacional.
Saber escutar, questionar a criança, perceber qual entendimento ela possui de sua realidade, dos valores morais, e da lógica, cria uma habilidade de avaliação rica, capaz de encaminhar o psicopedagogo ou os educadores para uma conclusão lógica sobre o potencial de aprendizagem da criança em questão.

Possuímos um órgão riquíssimo, surpreendente ,que  possuem aproximadamente 110 bilhões de neurônios com diferentes formatos e funções, com uma capacidade única e quase exclusiva de aprender. Cada neurônio tem potencial para fazer em torno de 60 mil  sinapses,sendo que cada sinapse pode receber até 100 impulsos por segundo( RIESGO, 2006). Mesmo seu desenho parecendo igual a todo ser humano, cada Cérebro se difere, nenhum é igual ao outro. Isso para mim torna esta questão de desenvolvimento e aprendizagem humana uma dádiva, um mistério a ser desvendado.
             Compreender o processo de pensamento de cada individuo, investigar o seu nível operatório, para que sejam ajustados as propostas de ensino às suas condições reais de aprendizagem, instiga-lo e provocar-lhe o desequilíbrio necessário, possibilitará a reflexão sobre novas formas de pensar sobre sua realidade, possibilitando assim, o avanço de seu nível operatório ou de abstração.
               Os problemas de aprendizagem surgem por falta de possibilidade da criança aprender, onde não possui a curiosidade desperta, não possui autoria de pensamento, ou não consegue decodificar as funções da linguagem.
               Todo pensamento, todo comportamento humano remete-nos à sua estruturação inconsciente, como produção inteligente e, simultaneamente, como produção simbólica.
              A interpretação do discurso não pode ser feita sem levar em conta o nível da realidade, pois a realidade é a prova: a leitura inteligente dessa realidade que lhe dá sua coerência: a dimensão do desejo, que é sua aposta, sem levar em conta sua modalidade simbólica que lhe dará sua paixão. SARA PAIM (p.233)



Bibliografia

BALESTRA, M.Marta Maria. A Psicopedagogia em Piaget, Uma ponte para a educação da liberdade.Curitiba: IBPEX. 2001

ASSIS,A.L. Arbila. Influências da psicnálise na educação, uma pratica psicopedagógica. Curitiba: IBPEX. 2ª ed. 2007

MACHADO, N. Maria Ana, Diagnótico e tratamento dos problemas de aprendizagem . Porto Alegre: Artes Médicas. 1995.

KANDEL,E, Schwartz, J. Fundamentos da Neurociência do comportamento. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan, 2000.

FERNANDEZ, Alicia. Inteligência Aprisionada, abordagem psicopedagógica clínica da crinaça e sua familia. Porto Alegre: Artes Médicas. 2ªedição. 1991

Dificuldades na aprendizagem e na escrita [Livro] / A. Furtado Valéria Queiroz. - petrópolis - RJ : Vozes, 2008. - Vol. 2ª.

Essas crianças que não aprendem- diagnósticos e terapias cognitivas [Livro] / A. Bellano Jean Marie Dolle Denis. - Petrópolis- RJ : Vozes, 1996. - Vol. 7ª.

 (Sisto, 2001)

Dificludades de aprendizagem no contexto psicopedagógico [Livro] / A. Sisto fermino Fernandez. - Petrópolis - RJ : Vozes, 2001. - Vol. 6ª.